quinta-feira, 19 de fevereiro de 2015

EXEMPLOS PARA EXCITAR OS PADRES A CELEBRAR TODO DIA SALVO CASO DE LEGÍTIMO IMPEDIMENTO




Ó Sacerdote de CRISTO, procedei de tal modo que, antes de tudo, seja simples e pura a vossa intenção, e que só tenhais a DEUS em vista.

Com esta finalidade, renovai ao menos mentalmente antes de começar a Santa Missa, as quatro intenções ensinadas anteriormente, e em vosso memento, depois de feita a aplicação devida, oferecei brevemente o Sacrifício ao altíssimo, para os fins a que foi instituído, Isto é, para honra a DEUS, agradecer-Lhe dar-Lhe reparação, e obter de sua bondade todos os bens.

Ponde em seguida todo o cuidado, a fim de celebrar com o máximo de modéstia, recolhimento, e atenção possível, calmamente, sem vos apressardes, mas empregando todo o tempo necessário para pronunciar bem todas as palavras, para executar integralmente todas as cerimônias com a gravidade e dignidade convenientes. Pois, se as palavras não são bem articuladas e as cerimônias bem feitas, ao invés de excitar a piedade e devoção tornam-se para os assistentes motivo de escândalo.

Isto posto, todo sacerdote deve tomar a firme e constante resolução de celebrar todos os dias a Santa Missa.

Se na Igreja primitiva, os leigos comungavam diariamente, é de crer com mais forte razão que os padres celebravam todos os dias.

Santo André dizia a seu perseguidor: Quotidie Emmolo DEO Agnum immaculatum. “Ofereço diariamente a DEUS, o Cordeiro Imaculado.” E São Cipriano, em uma de suas cartas: Sacerdotes que Sacrificium DEO quotidie immolamus. “Nós sacerdotes, que cada dia oferecemos a DEUS o Sacrifício.”

São Gregório Magno conta que São Cassiano, Bispo de Narni, tinha o costume de celebrar a Santa Missa todos os dias, e que seu capelão recebeu de DEUS a ordem de dizerlhe que fazia muito bem, e quão agradável lhe era a devoção do santo Bispo, estando-lhe reservada grande recompensa no Paraíso.

Ao contrário, os padres que, por negligência, omitem a celebração da Santa Missa, prejudicam imensamente a Igreja, de um modo que ninguém pode calcular.

É bem conhecida a sentença do venerável Beda: Sacerdos que absque legitimo impedimento Missae celebrationem omittit, quantum in ipso est sanctissima Trintatem privat laude et gloria, angelos laetitia, Peccatores vênia, justos asuxilio et gratia, existente in Purgatório subsidio et refrigério, Ecclesiam ipsam ingenti beneficio, et seipsum medicina ey remédio.

“O Sacerdote que, sem um legítimo impedimento, omite a celebração da Santa Missa, em quanto lhe é dado, priva os pecadores, de perdão; os justos, de graça; as almas do Purgatório, de refrigério e socorro; toda a igreja, de imenso beneficio, e enfim a si próprio de medicina e remédio.”

 “Onde encontrareis ladrão tão audacioso que , duma vez, cometa um roubo de tal importância, como este padre que, omitindo sem motivo, a Santa Missa, subtrai tão grandes bens aos vivos, aos mortos e a toda a Igreja? Múltiplas ocupações não constituem desculpa.

” O bem-aventurado Fernando, arcebispo de Granada, e ao mesmo tempo primeiro ministro do reino e, portanto, assoberbado de afazeres, celebrava, ainda assim , diariamente. O Cardeal de Toledo comunicou-lhe que a corte lamentava que, com tantos negócios a atender, celebrasse diariamente. “É justamente por isso, respondeu o servo de DEUS. Já que suas altezas impuseram-me aos ombros fardo tão pesado, não acho, para manter-me, melhor sustentáculo, que o santo Sacrifício da Missa, no qual vou haurir força e coragem para desempenhar minhas funções.

” Muito menos vale para escusar-me uma espécie de humildade como a de São Pedro Celestino. A idéia sublime que ele fazia deste Mistério leva-o a abster-se de celebrar diariamente. Apareceu-lhe, porém, um santo abade e lhe disse severamente: “E que Serafim digno de celebrar encontrareis no Céu? A escolha de DEUS para ministros do Santo Sacrifício não recaiu sobre os Anjos, mas sobre os homens, como tais sujeitos a mil imperfeições. Está bem que vos humilheis; mas celebrai diariamente, que tal é a vontade de DEUS.

” No entanto, para que a freqüência não diminua o respeito, esforçai-vos por imitar estes Santos que se salientaram especialmente pela modéstia e devoção nos santos Mistérios.

O grande e ilustre arcebispo São Herberto celebrava com tão extraordinário fervor, que parecia um Anjo do Paraíso. São Lourenço Justiniano ficava imóvel no altar, seus olhos pareciam rios de lágrimas, e seu espírito se empolgava todo em DEUS. Entre todos, porém, distingue-se São Francisco de Sales; jamais se viu um padre subir ao altar com mais majestade, respeito e recolhimento. Quando se revestia dos ornamentos sagrados, depunha e afastava todo pensamento estranho, e, apenas punha o pé no primeiro degrau do altar, sua fisionomia, em que as refletia o recolhimento de sua alma, assumia uma expressão toda Angélica que deixava encantados os assistentes.

Mas como encontravam estes Santos tantas delícias espirituais na celebração da Santa Missa! É que celebravam como se estivessem em presença de toda a corte celeste. Assim acontecia realmente a São Bonet, Bispo de Clermont. Uma noite em que ficara sozinho na Igreja, apareceu-lhe a Santíssima Virgem rodeada de uma multidão de Santos. Alguns dentre eles perguntaram à augusta Rainha quem devia celebrar a Santa Missa. “Bonet, o meu servo bemamado”, respondeu ela. O santo Bispo, ouvindo pronunciar seu nome, recuou assustado, buscando esconder-se, e a parede de pedra, sobre a qual se apoiou, por um grande milagre, amoleceu; a forma de seu corpo aí ficou impressa e ainda se pode ver. Sua humildade só lhe serviu para o tornar mais digno. Teve de celebrar em presença da Santíssima Virgem, com assistência de todos aqueles cidadãos do Céu. Depois da Santa Missa a Santíssima Virgem Maria, deu lhe uma alva de fulgente brancura e de estofo tão fino como não se pode encontrar nenhum comparável.

Ainda hoje se venera esta alva como preciosa relíquia. Com que modéstia, pergunto-vos, com que recolhimento e amor não terá ele celebrado aquela Santa Missa?

Se este exemplo, entretanto, vos parece por demais extraordinário, imitai então a conduta do glorioso São Vicente Ferre. Diariamente ele celebrava a Santa Missa, antes de pregar a um inumerável auditório.

Ora, duas coisas ele levava ao santo altar: uma soberana pureza de alma e uma extremada compostura exterior. Para conseguir a primeira, confessava-se cada manhã; e eis o que quisera de vós, ó sacerdote que buscai a maior honra de DEUS, ao celebrar os santos Mistérios.

É espantoso que alguns empreguem meia hora lendo livrinhos em preparação ao santo Sacrifício, enquanto que um curto exame e um ato de viva contrição sobre qualquer pecado da vida passada se não houver outra matéria, bastar-lhe-ia para adquirir grande pureza de coração. Esta é a preparação mais perfeita que poderíeis fazer para a Santa Missa: confessar-vos, o mais que puderdes, todas as manhãs.

Bani todo escrúpulo e não desprezeis o conselho que vos dou. Oh! Que messe abundante de méritos amontoaríeis então! Como me agradeceríeis ao encontrar-nos na bemaventurança eterna!

Para alcançar a segunda, o Santo queria que o altar fosse ornamentado com magnificência; exigia extremo asseio nos paramentos e vasos sagrados. Confesso que a pobreza de muitas igrejas escusa-as de possuir paramentos ricos, bordados a ouro e seda; quem pode, porém, dispensar o asseio e a decência convenientes? Zelo tão ardente pelos Santos Mistérios animava o seráfico São Francisco, que, apesar de seu amor à santa pobreza, queria os altares mantidos em perfeita limpeza, e mais ainda os sagrados paramentos que diretamente servem ao Divino Sacramento. Ele mesmo punha-se muitas vezes a varrer as igrejas.

São Carlos, em suas ordenações, mostra-se tão exigente em coisas que podem parecer mesquinhas minúcias, que, na verdade é de admirar.

Para terminar, a augusta Mãe de JESUS, nosso DEUS, quis pessoalmente fazer-nos compreender esta necessidade, quando em uma aparição a Santa Brígida, disse: “Missa dicinon, debet nisi in ornamentis mundis.” “Não se deve celebrar a Santa Missa senão com paramentos convenientes, que inspirem devoção por seu asseio e decência.”

Antes de terminar este parágrafo, resta dizer algo a respeito do ministro que serve à Santa Missa. Em nossa época dá-se aos meninos e a ignorantes este encargo, de que nem os próprios reis seriam dignos. Diz São Boaventura que é um mister angélico, pois muitos Anjos assistem ao Santo Sacrifício e servem a DEUS neste santo mistério.

A gloriosa Santa Mectilde viu a alma de um irmão leigo envolta em deslumbrante claridade por ter-se empregado com extremo fervor em servir em todas as Santas Missas que pudera.

São Tomás de Aquino, o sol da Escolástica, conhecia bem o valor inestimável deste ofício de servir no divino Sacrifício, e não se dava por satisfeito se, depois de ter celebrado a Santa Missa, não ajudava outra.

São Tomás More, chanceler da Inglaterra, punha suas delícias nesta santa função; e certo dia, admoestado por um grande do reino que lhe avisava de que o rei Henrique veria com desprazer ação tão pouco digna dum primeiro ministro, respondeu: “Não pode segredar a meu senhor, o rei, que eu sirva o Senhor de meu rei, o qual é o Rei dos reis e o Senhor dos senhores.”

Aí está o bastante parta confundir essas pessoas, às vezes até piedosas, a quem é preciso pedir d suplicar para que ajudem à Santa Missa, quando deveriam porfiar e apoderarse do missal a fim de ter a honra de desempenhar emprego tão santo que faz inveja aos próprios Anjos e Santos do Paraíso.

Importa, evidentemente, velar com cuidado para que os que ajudam à Santa Missa sejam bem instruídos quanto a seu papel.

Devem manter os olhos baixos, uma atitude modesta e piedosa; cumpre-lhes pronunciar as palavras, distintamente, docemente, em voz não baixa demais, que o sacerdote não os ouça, nem por demais alta, que incomode os que celebram nos altares próximos.

Dever-se-ia, outrossim, excluir certos meninos muito levianos, que brincam e fazem barulho e perturbam o recolhimento do sacerdote. Rogo a DEUS que inspira aos homens prudentes dedicarem-se a este ofício tão santo e louvável. Competiria aos mais nobres a aos mais instruídos dar este belo exemplo.


fonte: trecho do Livro "As excelências da Santa Missa" escrito por São Leonardo de Porto Maurício (1737)

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